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sábado, março 24, 2012

Zero Hora parece sentir saudade dos “presidentes militares”

Um relatório do SNI, em 1978, comentava o posicionamento dos jornais do Rio Grande do Sul frente à Ditadura Militar. No item Zero Hora, o início do texto é incisivo: “Em seu editorial posiciona-se, geralmente, favorável ao governo Federal.”. Como um jornal favorável ao governo da Ditadura nos anos 1970 poderia tratar, já em 2012, o centenário do colégio que formou nada menos do que os cinco ditadores que governaram o Brasil naquele período sombrio? É claro que foi grande a comemoração e foram ainda maiores as odes à formação de presidentes de um regime amigos de ZH – ainda que inimigo da liberdade.
Foi isso o que os presidentes formados no Colégio Militar fizeram. ZH esqueceu.
O Colégio Militar de Porto Alegre foi passagem de Castelo Branco, Costa e Silva, Emílio Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo. E o título da matéria do repórter Humberto Trezzi na página 26 da edição da última quarta-feira de Zero Hora, é “A escola dos presidentes faz cem anos de história”. Título esse complementado pela seguinte linha de apoio: “Aniversariante, Colégio Militar formou alunos que ocuparam o mais alto cargo público do país”. Qual cargo? O de ditador?
Mas a demonstração de saudosismo do jornal não para por aí. Nos poucos parágrafos do texto (a matéria inteira, incluindo um quadro com fotos e uma retranca, ocupa a página inteira) ainda há espaço para uma pérola de análise histórica cometida por Trezzi: “Num século marcado por guerras, natural que vários presidentes tenham sido militares”.
O quadro citado acima é a cereja do bolo de uma matéria que lamentavelmente aconteceu, e que talvez tenha sido um dos grandes equívocos do jornalismo brasileiro nestes primeiros meses de 2012. O quadro traça pequenos perfis de Castelo Branco e de Costa e Silva. Sobre o primeiro, ZH conta que “foi presidente da República de 1964 a 1967”. Sobre o segundo, além de repetir a frase com a mudança de datas, destaca: “Em seu governo, entrou em vigor o AI-5, instrumento que deu poderes absolutos ao regime militar”. Eufemismo pouco é bobagem. Com “poderes absolutos” quererá Zero Hora dizer que o AI-5 abriu a porta para a suspensão de direitos políticos e a cassação de mandatos, estabeleceu a censura prévia, suspendeu o direito de habeas corpus e proibiu manifestações populares de caráter político? Omissão grave. E que não acontece por acaso, o que fica claro ao levarmos em conta o histórico do jornal e o conteúdo completo da matéria. Zero Hora está saudosa.

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