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quinta-feira, maio 17, 2012

Emocionada, Dilma Rousseff instala a Comissão da Verdade

Brasília (AE) - Presa política e torturada durante o regime militar, a presidenta Dilma Rousseff, mesmo emocionada a ponto de apertar a boca para conter o choro que olhos marejados revelaram, repudiou o revanchismo nas investigações da Comissão da Verdade, instalada ontem em cerimônia no Palácio do Planalto. "O País reconhecerá nesse grupo, não tenho dúvidas, brasileiros que se notabilizaram pelo espírito democrático e pela rejeição a confrontos inúteis ou gestos de revanchismo", disse.

Escudada por quatro ex-presidentes, Dilma afiançou o "pacto" político materializado na Lei da Anistia que permitiu a transição para a democracia, mas exigiu que a memória e as histórias dos mortos sejam reveladas, apontando a responsabilidade de agentes do Estado. "A sombra e a mentira não são capazes de promover a concórdia", ressaltou.

"Nós reconquistamos a democracia à nossa maneira, por meio de lutas e de sacrifícios humanos irreparáveis, mas também por meio de pactos e acordos nacionais, muitos deles traduzidos na Constituição de 1988", disse. "Assim como respeito e reverencio os que lutaram pela democracia enfrentando bravamente a truculência ilegal do Estado, e nunca deixarei de enaltecer esses lutadores e lutadoras, também reconheço e valorizo pactos políticos que nos levaram à redemocratização."

Dilma defendeu o direito de os familiares enterrarem os mortos durante o regime militar ao afirmar que "a força pode esconder a verdade, a tirania pode impedi-la de circular livremente, o medo pode adiá-la, mas o tempo acaba por trazer à luz e, hoje, esse tempo chegou".

Com voz embargada, em recado sobre o objetivo da comissão de mapear as responsabilidades dos agentes de Estado, disse que "as novas gerações merecem a verdade, e, sobretudo, merecem a verdade factual aqueles que perderam amigos e parentes e que continuam sofrendo como se eles morressem de novo e sempre a cada dia". "O direito à verdade é tão sagrado quanto o direito que muitas famílias têm de prantear e sepultar seus entes queridos, vitimados pela violência praticada pela ação do Estado ou por sua omissão."

Primeira reunião tem a presença de três ministros

Brasília (AE) - O coordenador da Comissão da Verdade, Gilson Dipp, informou após a primeira reunião do colegiado, realizada ontem no Palácio do Planalto, que "apenas questões meramente burocráticas" (como definição de que as reuniões ordinárias serão de 15 em 15 dias, a partir da próxima segunda-feira, no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília) foram definidas no encontro. A comissão poderá, ainda, se reunir extraordinariamente, em Brasília, ou em qualquer outro local. Também serão criadas subcomissões para balizar os trabalhos. Os integrantes do grupo manterão contato permanente também por meio de e-mails, Skype ou outros meios.

Dipp assegurou que não foram definidas as linhas de trabalho da comissão e nem por onde começarão as atividades. Assegurou, no entanto, que os trabalhos já desenvolvidos por outros órgãos serão aproveitados, como prevê a legislação.

Apesar de a presidenta Dilma Rousseff assegurar que terão total liberdade e independência para desenvolver seus trabalhos, a primeiro reunião da comissão contou com a presença dos ministros da Casa Civil, Gleisi Hoffmann; da Justiça, José Eduardo Cardozo; e da Advocacia-Geral da União, Luís Inácio Adams. 

Lula foi o mais aplaudido entre os ex-presidentes 

Brasília (AE) - Dos quatro ex-presidentes que compareceram ontem à cerimônia de instalação da Comissão da Verdade, no Palácio do Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva foi o mais aplaudido. Antes de cair no choro, a presidenta Dilma Rousseff chegou a interromper as apresentações para engrossar a claque, gesto que não repetiu para os demais convidados, embora tenha citado até mesmo a contribuição do ex-presidente Fernando Collor em seu discurso.

"Essa é a única Comissão da Verdade do mundo que surgiu de baixo para cima. Foi do povo para o povo", disse Lula, após a solenidade, com a voz em tom mais baixo do que o habitual por causa do tratamento para combater um câncer na laringe. "Foi um passo estupendo que a sociedade brasileira deu hoje, na conquista da democracia."

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, também elogiado no discurso de Dilma, devolveu o afago. "Ela está tratando esse assunto como deve ser: uma questão de Estado, e não de política. Reconheceu que cada um fez um pedacinho", afirmou FHC. "Nós enfrentamos um longo processo para chegar até aqui, no sentido de buscar a verdade e, ao mesmo tempo, de abrir as portas para uma reconciliação."

O cerimonial do Planalto temia vaias a Collor, que sofreu impeachment em 1992, no rastro de denúncias insufladas pelo PT, e hoje é aliado do governo no Senado. Dilma, porém, criou uma vacina contra possíveis constrangimentos ao mencionar que, no mandato de Collor, foram abertos os arquivos do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) de São Paulo e do Rio.

"Tratamos aqui do fim de um processo que começou lá atrás e a presidenta Dilma deixou a todos nós muito emocionados", comentou Collor diante de uma plateia formada por ministros, parlamentares, parentes de desaparecidos políticos e comandantes das Forças Armadas. Questionado por repórteres sobre o seu sentimento ao retornar como convidado para uma cerimônia no Planalto, ele desconversou: "Nesses 20 anos eu já voltei inúmeras vezes."

Depois da cerimônia, Dilma recebeu Lula, Fernando Henrique, Collor, José Sarney, ministros e os sete integrantes da Comissão da Verdade para um almoço no Palácio da Alvorada. 
http://tribunadonorte.com.br/noticia/emocionada-dilma-rousseff-instala-a-comissao-da-verdade/220356

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