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quarta-feira, julho 06, 2011

Onde está Juan?

Eu queria falar de outro assunto. Em pelo menos duas favelas do Rio o projeto de pacificação de favelas ameaça ir ladeira abaixo porque os bandidos deram sinais de que não apenas continuam no território, como armados. No Morro da Coroa, um PM teve uma das pernas amputadas depois de atingido por uma granada lançada por um traficante. No Morro do Andaraí, ontem à noite, dois mototaxistas foram mortos pelo tráfico em represália por se recusarem a pagar a taxa paga ao crime organizado. A cúpula da Secretaria de Segurança tenta minimizar o problema. Enfim, tem muito assunto. Mas não consigo deitar tranquilamente a cabeça no travesseiro sem pensar num menino de apenas 11 anos, cujo corpp está desaparecido,  desde que ele foi vítima de uma bala perdida num tiroteio entre bandidos e PMs do 20º Batalhão (Mesquita). Esse menino se chama Juan. Seu irmão, Wesley, também ferido, viu Juan caído, mas seu corpo foi surrupiado.
Apenas uma semana após o desaparecimento de Juan  a polícia do Rio foi periciar o local em busca de pistas para se achar o menino e/ou descobrir os responsáveis pelo sumiço. O próprio diretor do Instituto de Criminalística Carlos Éboli, Sérgio Henriques, foi fazer a perícia em cinco carros do 20º Batalhão, que teriam participado do tiroteio no qual Juan foi baleado. É raro um diretor do ICE ir fazer a perícia. Muito provavelmente a chefe da Polícia Civil, Marta Rocha, se sensibilizou com a excelente reportagem publicada no Extra de ontem, que exibiu a manchete "Onde está Juan?"
Na reportagem de segunda-feira o "Extra" fez o que nenhum jornal havia feito até agora sobre o caso. Elencou seis pontos que prejudicaram bastante a suposta investigação em andamento para se desvendar o Caso Juan.
1) A Polícia Civil não fez perícia na patrulha que participou do confronto na segunda-feira passada.
2) A Polícia Civil também  não pediu as armas dos agentes para periciá-las.
3) O local onde houve a troca de tiros não foi periciado.
4) A Polícia Civil não foi em busca de testemunhas do sumiço do menino Juan, que estariam com medo de prrocurar a deleacia. Em vez disso, encarregou a mãe do garoto de levar os vizinhos até à polícia.
5) Juan estaria com um celular no dia em que sumiu, mas o rastreamento do aparelho não foi solicitado.
6) Apesar da gravidade do caso, a Corregedoria da PM disse que não abrirá nenhuma sindicância, a menos que o 20º solicite.
Diante de tanta lerdeza, até o chefe da Corregedoria geral Unificada, Giuseppe Vitagliano - que pouco se manifesta pela imprensa - afirmou que "quanto mais tempo passa, mais difícil se torna a investigação e se perde a oportunidade de chegar à verdade".
A essa  altura dos acontecimentos, não basta mais se chegar à verdade. A família de Juan merece ter de volta o corpo do menino, já que até sua mãe duvida que ele esteja vivo. Além disso, o governo do estado - por meio da Secretaria de Segurança - deve empreender todos os esforços possíveis e impossíveis para se chegar aos responsáveis pelo desaparecimento do menino. Há basicamente dois suspeitos: bandidos e PMs. Tanto uns como outros desenvolveram métodos eficientes de desaparecimento de pessoas, em diversas situações. Mas é a primeira vez que se tem notícia que varreram pra baixo do tapete o corpo de um menino vítima de bala perdida. Se os bandidos o balearam muito provavelmente deixariam o corpo para a PM pagar o pato. E se foram os PMs que atiraram sem querer no menino? Por acaso algum bandido iria ajudar os PMs, desaparecendo com o corpo? Do jeito que alguns policiais andam de mãos dadas com criminosos isso até seria possível. Mas a fatura iria acabar na conta da polícia, como está acontecendo.
Inspirado na manchete do Extra, lancei ontem  no Twitter a campanha Onde está Juan, que é feita por meio da inserção de uma hashtag (# seguido de palavra ou expressão). Durante cerca de três horas obtive mais de 200 respostas de internautas que estão naquela mídia social. O Twitter tem se tornado um excelente meio de divulgação de ideias e unido muita gente boa contra o crime. No fim de semana, por exemplo, milhares de tweets denunciaram o site de um pedófilo, que no dia seguinte foi retirado do ar, e o criminoso está sendo caçado pela Polícia Federal.
No Caso Juan, a campanha logo atraiu a simpatia de tuiteiros como @EduarddoK, que tuitou tanto que acabou sendo banido provisoriamente do Twitter (acima de determinado número de mensagens, essa mídia social bloqueia o perfil do usuário, supondo tratar-se de SPAM). No início da madrugada, a campanha  já conseguira a adesão dos jornalistas Bob Fernandes e Leda Nagle, do blogueiro e PM Danillo Ferreira, além da escritora e autora de novelas Glória Perez. Em pouco tempo a hashtag #Ondeestajuan conquistava os trending topics (mensagens mais reproduzidas no Twitter) no Estado do Rio de Janeiro. Agora  contamos com a sua ajuda para o tema chegar aos trending topics do país.
O caso do site do pedófilo era a prova que precisava. Nós podemos nos unir nas mídias sociais em torno de temas que são imprescindíveis a todos, independentemente de quem somos. Nós não podemos admitir que um menino de 11 anos desapareça impunemente durante operação policial no nosso estado. Não podemos ficar de braços cruzados ou descruzados apenas lendo os jornais. É preciso renovarmos nossa capacidade de indignação e fazer alguma coisa. Enquanto não é possível fazer muito, podemos ao menos juntos ecoar a mesma voz, numa pergunta em uníssono: "Onde está Juan?"
Ontem a mobilização no Twitter repercutiu em sites como o Casos de Polícia, do Extra.

Fonte:Repórter de um Crime

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