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sexta-feira, julho 01, 2011

Roubo, Drogas, Cerveja e Cachaça


A maioria de meus clientes é composta por acusados do crime de tráfico de drogas. E isto se dá por um motivo bem simples: não aprecio e, portanto, não costumo atuar em processos que envolvam violência, ameaça à integridade física ou psicológica.  Ilustro abaixo.
Nos processos de Roubo, existe violência direta, objetiva contra a pessoa, a vítima tem nome, endereço, familia. O cidadão vítima de um assalto, que ve sua casa invadida na madrugada por vários agentes empunhando armas de fogo, ameaçando seus familiares, aliciandos seus filhos e filhas, dificilmente conseguirá recuperar sua paz de espirito, sua tranquilidade. Uns jamais voltam a dormir com luzes apagadas. Outros não dormem sozinhos. Outros mudam de endereço, de estado, de país.
No crime de tráfico, ninguém é obrigado a vender. E nem a comprar.  É uma questão de saúde pública. Vende quem quer, compra quem quer. E por favor, não estou aqui pra esmiuçar os motivos.
Alguns entendem que existe uma tendência social de tratar o usuário de drogas como uma vítima do sistema, como coitadinho, mas que na verdade ele seria o grande vilão, afinal, ”só existe o vendedor porque existe um comprador”. Os que pensam assim veem na CADEIA a única solução. Grande equívoco.
Todos os dias existem homicidios pelo país ligados ao tráfico de drogas, mas sejamos sinceros, os homicidios sao sempre por disputas de pontos de venda, dívidas, que, em sua grande maioria, os agentes/vítimas são envolvidos com o tráfico. E se eles continuarem assim, matando uns aos outros, o problema é deles.
Agora, culpar o tráfico de drogas pelas mazelas do mundo é visto como exagero para quem conhece a realidade dos fatos. A profissao do advogado criminalista traz o acusado para perto, permite conhecer fatos, origens, causas, e imperativa é a conclusão: o problema é social.
É muito mais fácil criar um bode expiatório do que cobrar dos politicos seus deveres, suas obrigações. É mais fácil fechar os olhos para o filho daquele politico que, com vinte e poucos anos, compra casas e terrenos por milhares, milhões de reais.
Mas os verdadeiros bandidos são esses, os que desviam a verba da merenda, permitem que remédios percam a validade, permitem o sucateamento dos orgãos de segurança e saúde pública.
Conheci de perto o problema do vício com drogas. Particularmente dois amigos, que trocavam tudo por um pouco do vício. É horrível, indescrítivel. Opa, na verdade dá pra descrever sim. Voce conhece algum alcoolatra? É a mesma coisa.
Na verdade não é a mesma coisa. O álcool é permitido, as vítimas são mais numerosas, uma vez que este age dentro de casa, no trabalho, na festa de aniversário, na festa de casamento. Preso sob o efeito do alcool? Multa de Mil Reais. Homicidio sob o efeito do alcool? Fiança. Liberdade Provisória.  Preso com cigarros de maconha? Prisão obrigatória. Pelo menos seis meses.
Quem nao passou por um constrangimento, ou constrangeu alguem, sob o efeito da bebida? Quem nao conhece alguem que ja se envolveu num acidente de transito sob o efeito do álcool? Um vizinho que já agrediu a mulher? Voce vê um drogado caído pela rua? E um bêbado?
Jornais mostram crianças usando drogas, esquecem de mencionar que ali, naquele bairro pobre, nao existe colégio, conselho tutelar, delegacia. Uma quadra de esportes? Um curso de informática? Nada.
A quem interessa uma saúde pública satisfatória? A quem interessa a segurança pública? Com um mundo seguro, como viveriam os programas policialescos? Os paladinos da justiça? Pois eles precisam é de desgraça, de vidas humanas perdidas, pois só assim podem sugar o dinheiro do povo, ter uma vida dupla.

Fonte:Diário de uma advogado criminalista

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